Como refiro acima as fotografias do teatro têm seguramente quarenta e oito anos. Era um adolescente e nessa altura o dinheiro era pouco. Se queríamos assistir a uma sessão ou era por bondade do porteiro ou por bondade do senhor Santos. Curiosidade não nos faltava, mas faltava o mais importante - dinheiro. Ainda bem que nessa época havia mais colaboração com quem não tinha meios para os pagar, principalmente, os jovens como eu.
Ainda me lembro do ano em que a televisão chegou a Portugal e Freamunde foi das primeira terras a ter uma. Um dia estávamos a brincar e o Nani Santos chegou à nossa beira e disse: temos em nossa casa um rádio em que se vê pessoas. Ficamos todos surpreendidos! Podia lá ser. Um rádio onde se via pessoas?! Não tínhamos o Nani por aldrabão. Pedimos-lhe para nos mostrar essa preciosidade. Se fosse verdade de certeza que o Mundo estava para acabar. Isto tudo se passou em finais de mil novecentos e cinquenta e sete, princípios de cinquenta e oito. Ainda faltava um bom par de anos para o ano dois mil. Era o século em que os entendidos diziam que não o dobrávamos. Aos mil chegarás dos dois mil não passarás.
A partir daí éramos visitas assíduas em casa do senhor Santos. Como éramos companheiros dos seus filhos, Eduardo e Nani, eu era colega de escola do Eduardo, andávamos na mesma classe, embora seja mais velho um ano, mas era colega não por ter reprovado um ano, era simplesmente pelo motivo de naquele tempo quem seguisse a vida de estudante entrava mais cedo um ano para a escola primária. Havia três na minha turma: o Eduardo, Victor Lobo e José Armando Teles. A dona Brazinda, esposa do senhor Santos, todos os dias lá nos deixava entrar para a sala para ver televisão. Iam crianças de quase todos os lugares de Freamunde. Do Calvário e da Bouça, era onde residia, era o maior número. Ficávamos maravilhados com os programas que eram exibidos, o Bonanza, nessa altura era a nossa delícia, a Lassie, o Acácio, programa de humor, papel desempenhado por Camilo de Oliveira, estava no início da sua carreira.
Vem tudo isto a propósito das fotografias do teatro. Quando mexemos com o nosso baú de recordações elas saem todas em catadupa. É bom lembrar este tempo. Havia mais bairrismo as pessoas eram todas por uma e uma por todas. Freamunde perdeu muito. Certas pessoas que tinham uma certa liderança morreram outras perderam a pujança de outrora. Existem algumas que dão o corpo ao manifesto e ainda se vai fazendo algo como acontece de há uns dez anos para cá com a Associação Cultural e Recreativa Pedaços de Nós.
Também o vídeo exibe fotografias da procissão do Mártir S. Sebastião na passagem pela Gandarela e como o tema é a opereta Gandarela, resolvi introduzi-las. É tradição a rua que passa pela Gandarela ter até ali os arcos com iluminação e a procissão fazer ali a passagem. Um dia, como em tudo, tudo muda, mas não vejo como vai haver coragem de interromper a passagem da procissão. Sei o carinho e abnegação que usam para darem o melhor pela procissão e como podem ver pelas fotografias dá gosto ver a rua toda atapetada.
É como digo mais em cima, vamos ao baú de recordações e dá-nos para estas divagações. Mas sinto bastante prazer nelas. Aqui estão os pedaços de nós.
Sem comentários:
Enviar um comentário