Como escreveu GIOVANNI SARTORI, a páginas tantas do seu livro «HOMO VIDENS, TELEVISÃO E PÓS-PENSAMENTO» (*):
«É difícil negar que mais subinformação e mais desinformação são os negativos do telever. Mesmo assim – contrapõe-se – a televisão até sai a ganhar sobre a informação escrita, porque “a imagem não mente” (era este o ‘slogan’ de Walter Conkrite, o decano dos‘anchormen’ da televisão americana). Não mente, não pode mentir, pois a imagem é o que é, e fala, por assim dizer, por si. Se algo é fotografado, então esse algo existe, e é tal como se vê.
«Ora, não há dúvida de que os noticiários da TV dão ao espectador a sensação de que aquilo que vê é verdade, que os acontecimentos são vistos por ele, tal e qual como acontecem. E no entanto, não é assim. A televisão pode mentir, e pode falsear a verdade, exactamente como qualquer outro instrumento de comunicação. A diferença está em que a “força de veracidade” ínsita na imagem torna a mentira mais eficaz e, por isso mesmo, mais perigosa» […]
«A verdade banal é que, para falsear um acontecimento narrado por imagens, basta a tesoura. Além disso, não é de todo verdade que a imagem 'fala por si'. É-nos mostrado um morto. Mas quem o matou? A imagem não o diz; di-lo a voz de quem tem o microfone na mão; e se o ‘speaker’ tenciona mentir, ou lhe mandarem mentir, o jogo está feito.
«Dispomos de experiências a confirmar que, na TV, as mentiras até se vendem bem melhor. Em Inglaterra, um popular comentador deu – no ‘Daily Telegraph’ e, a seguir, na rádio e na TV – duas versões dos seus filmes preferidos, uma verdadeira e outra descaradamente falsa. Uma amostra de 40.000 pessoas – telespectadores, ouvintes e leitores – foi convidada a responder em qual das duas versões é que o comentador tinha dito a verdade. Os que melhor descobriram as mentiras foram os que ouviram na rádio (mais de 73%), enquanto só 52% dos que viram pela televisão conseguiram descobri-las. O resultado parece plausível. Explico-o da seguinte forma: o videodependente tem menos sentido crítico do que o indivíduo que ainda é um animal de hábitos simbólico treinado para lidar com símbolos abstractos. De facto, ao perdermos a capacidade de abstracção, também perdemos a nossa capacidade de distinguir o que é verdadeiro do que é falso».
(*) A edição original, italiana, Gius. Latterza & Figli, é de 1997, 1998 e 1999. A edição portuguesa é da Terramar/ideias, de Fevereiro de 2000.
Alfredo Barroso
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