O dia já estava destinado a ser mau e portanto, comecamos logo pelo título a mostrar a paciência que vai embrulhada na escrita. Já lá vão 5 dias desde que deu à costa a operação "safra justa", um esquema de escravatura levado a cabo no Alentejo (Beja), controlado por 11 GNRs e 1 PSP, num conjunto de herdades agrícolas que, aparentemente, não pertencem a ninguém. Há várias reflexões que me parecem interessantes tirar daqui. Algumas óbvias, outras nem tanto.
1 - Quem são os donos das herdades? Estão presos?
2 - Percebem, através de casos como este (já nao é o primeiro), como o discurso de ódio contra imigrantes os deixa mais vulneráveis e sujeitos a estas redes de escravatura?
3 - O Chega fez dos imigrantes o seu alvo favorito nos últimos 2 anos. As forças policiais são, entre os vários sectores profissionais, aquele em que o Chega tem melhor penetração de quadros. Conseguem perceber o sentimento de impunidade e libertação de consciência que isso assegura, no tratamento com imigrantes, de alguns elementos das forças de segurança?
4 - Tem sido tema dos debates presidenciais que 40% do trabalho no sector agrícola é garantido por mão de obra imigrante. Muita dela em regime de pura exploração. Sabendo que Portugal precisa de mão de obra e que o governo de extrema-direita vai dificultar a entrada de imigrantes, todos percebemos o que vai acontecer, não é? As redes clandestinas vão aumentar porque, havendo a necessidade económica de ter o trabalhador, certamente o tráfico se encarregará de o fazer chegar ao seu destino.
5 - Há alguém, entre os "portugueses de bem", que veja os imigrantes a serem tratados como escravos, enquanto pagam impostos e aguentam a segurança social, e no fim se sinta ligeiramente envergonhado? Há algum apoiante do Chega que veja um caso destes e perceba a quantidade de tangas que lhe dizem diariamente no tik-tok?
6 - Por fim, há algum jornalista que tenha o Cotrim por perto e lhe possa pedir para repetir aquela frase, icónica, de que "os empresários portugueses não pagam mal por desporto"?
Não é por desporto, não. É mesmo por crueldade e uma ganância sem limites. Que absoluta vergonha que sinto a ler sobre casos de escravatura, no meu país, em pleno século XXI. Que puta de injustiça na forma de tratar outro ser humano.
Dito isto, quero apenas perceber duas coisas. O tempo que o ministério público demorará a formalizar uma acusação aos donos das herdades e, que reação oficial terá o Chega, o partido incitador do ódio contra os imigrantes.
Portugal torna-se, a cada dia que passa, um local menos recomendável. Isto sim, é que é uma vergonha.

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