Há muitos, muitos anos, era eu um petiz e neste 10 de Junho era incumbido, não só eu, mas um sem número de crianças das Escolas Primárias de Freamunde. Refiro primárias porque eram as únicas existentes. Femininas e Masculinas. Situavam-se na Rua do Comércio, as primeiras onde se encontra hoje o Posto da Guarda Nacional Republicana (GNR), as segundas nas Escolas Amarelas, hoje espaço da Associação Pedaços de Nós e Grupo Teatral Freamundense, assim chamada derivada à sua cor exterior.
Certo, certo, é que éramos incumbidos para nos apresentamos a seguir ao almoço naquele lugar para se dar início ao desfile, do dia 10 de Junho, Dia da Raça como alcunhou Cavaco Silva, de oferendas de prendas. Depois de feita a chamada e, depois de ver que não faltava nenhum aluno, lá seguíamos para a Cantina Escolar situada na Praça do Mercado.
Depois das oferendas entregues, regra geral, era um quilo de arroz, massa ou batatas, outras uma garrafa de óleo, o azeite estava pela hora da morte. Essas oferendas eram as que iam contribuir para o sustento ao meio-dia de segunda a sexta-feira. Depois o governo intitulava-se como o seu benfeitor. Aliás, era o que acontecia com o leite em pó e o queijo amarelo que era ofertado pelos americanos. Éramos um País de fracos recursos. Depois rumávamos em fila indiana para a Associação dos Socorros Mútuos Freamundense onde alguns alunos preparados pelos professores a declamarem versos.
Os professores, uns, quase obrigados a manter essa farsa, outros, contentes da vida por demonstrar o seu servilismo ao senhor presidente da câmara e a quem, não sabia quem, no escuro seguia todos os movimentos.
Pais de colegas meus, mais instruídos na política, levavam com forte perseguição no seu dia-dia. Esses pais tinham de se tornarem impostores para não darem com os costados nos Aljubes da Pide. Só em casa, às vezes nem em casa, é que se sentiam sossegados.
Esta era a triste realidade que uma maioria de jovens desconhece. Também não mostram interesse em saber.
Pode ser que um dia lhes vá tocar a eles.
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