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domingo, 24 de fevereiro de 2013

A roda:


Gosto de ler as crónicas diárias de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias. Aqui é-lhe dado um pequeno espaço onde em tão pouco diz muito. Sobre a política portuguesa e mundial, economia, saúde e o dia-a-dia dos portugueses. Não faço comentários no DN porque se o fizesse era a condenar a forma soez como alguns o fazem. Há formas de discordar mas discorde-se com elegância.
Na de hoje, sobre os burros de Miranda do Douro, fez-me lembrar as histórias (reais) que meu pai me contava, quando era menino, sobre os antepassados quando se tornavam velhos.
Como os filhos não tinham tempo e condições para velar pela velhice dos seus progenitores era usual levá-los ao cimo do monte e ali deixá-los ao deus dará com uma manta e uma broa de pão. 
A moda pegou e não havia casa nenhuma que assim não procedesse. A velhice era uma espécie de lepra. Para não contaminar os demais há que levá-los a um lugar próprio e aí abandoná-los.
A invenção da roda levou os povos a ter outro conhecimento da vida. Aqui deparou-se que o mundo é redondo e que de vez em quando volta-se ao mesmo lugar. Com isto quero dizer que todos estamos sujeitos a vermo-nos envolvidos nessa roda.
Continuava meu pai. - Um dia aconteceu a um velho ser levado pelo filho ao cimo do monte. Ali chegados, o filho entregou ao pai a dádiva: uma broa de pão e uma manta. Acto contínuo o pai pegou numa navalha e cortou a manta a meio assim como a broa.
O filho admirado com tal acção perguntou. - Porque faz isso? Tendo recebido como resposta. - Aceita estas metades. A vida conforme decorre, quando te tocar a ti esta situação, presumo que os teus filhos não te possam oferecer o que me estás agora a dar. 
Bastaram estas palavras para fazer ver ao filho como a invenção da roda foi a maior da humanidade. 
Levou novamente o pai para sua casa e a partir daí mais nenhum velho foi levado para o monte.         

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